Joaninha – A gata maravilhosa

As luas que regem as gatas no início de cada ano dão os seus frutos na primavera e no início do verão, trazendo ao mundo ninhadas generosas de gatinhos. Os mais sortudos conseguem ser acolhidos por associações que os ajudarão a ganhar uma nova casa, outros serão recolhidos diretamente da rua pelos seus novos tutores e outros terão de lutar pela sobrevivência nas ruas, dia após dia. 

Tão pequeninos e amorosos que eles são, cabem na palma da mão, brincam, fazem ron ron, dão torrinhas, aninham-se no colo e mesmo na versão mini parecem encher uma casa. Um gato é um gato e cada gato tem uma personalidade própria. 

Ninguém contesta ou questiona os benefícios que um animal de estimação traz a uma família ou ao desenvolvimento das crianças. Ter um amigos destes implica entrega, responsabilidade e disponibilidade física e económica. Não são uns sapatos apertados que trocamos pelo número acima ou um móvel mal nivelado que exigimos novo ou a devolução do dinheiro!

Eis que chegam as tão desejadas férias de verão! Passamos o ano inteiro a choramingar pelas férias, pela praia, pelos dias longos e pela liberdade momentânea que nos proporcionam. E o gatinho que cresce lá em casa fica onde? Não pode ficar sozinho. Não temos com quem deixá-lo. E para isto existem soluções que custam dinheiro.

Em pleno agosto uma gatinha pequena, mansinha e desorientada, mia alto ao ponto de se ouvir num terceiro andar. Que terá acontecido? Como chegou até ali? Ter-se-á perdido da mãe? Terá caído de uma janela? Então o calor que cola a roupa ao corpo, relembra os cães abandonados em pleno verão no Monsanto (Lisboa) onde os donos os deixavam sós depois de lhes abrirem a porta para sair. A desfaçatez tantas vezes testemunhada, no fim das férias para sorte de alguns, disfarçada numa procura pelo animal “perdido”. Seria também esta a história desta gatinha?

A independência dos gatos colocam-nos facilmente em fuga, justificando para algumas famílias o desaparecimento do animal em época balnear ou épocas festivas. 

Os dias foram passando e ninguém a reclamou ou procurou. Os vizinhos, solidários com a doçura e a entrega da pequena não deixaram que a fome lhe chegasse. Foram afagando a gatinha e zelando por ela sempre que a ouviam miar mais alto. A afabilidade que se diz os gatos não terem, tinha-a ela, oferecida como poucos gatos são e doce como o mel. 

Mas o azar da doce gatinha foi talvez a maior sorte que se pode ter na vida. Num ato de coragem sem precedentes e depois de ter escolhido quem queria para seu tutor, fez-se ao caminho como uma flecha! A porta do carro abriu-se e ela num só salto entrou para nunca mais sair. 

Quem escolheu quem? A dona ou a gata? Não havia caminho de volta, a escolha estava feita e uma vez dentro do carro estavam ligadas para sempre. Quem salvou quem? A irrelevância da resposta comprovou-se ao longo de 15 anos de amor puro em laços inquebráveis que entrelaçaram as duas almas.

“Sabes Joaninha, no caderninho do amor onde aponto os amores da minha vida, estás no topo da lista. Sabes bem que é assim. É o teu lugar para sempre.” Ela olhava-me embevecida por saber que era verdade.

 

Dedicado à Joaninha (2005/2020) a minha primeira gata resgatada.

 

Sofia Cortez

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