A tour do Be My Friend aconteceu entre 29 de Abril e 7 de Maio. Muitos cães passaram pelas sessões e muitas associações e canis foram visitados. Foram 7 dias de sessões fotográficas que nos trouxeram a oportunidade de experienciar várias realidades e perceber muitos dos problemas e principais questões que envolvem a adopção de animais.
Mas comecemos com os números:
Total animais fotografados – 427
Número de Dias – 7
Número de instituições – 14
Número de sessões – 13
Número de Canis – 7
Número de Associações – 7
Número de Localidades – 12
Número de Kms percorridos – 1800
O percurso foi: Castelo Branco, Ponte de Sor, Campo Maior, Arronches, Elvas, Vendas Novas, Redondo, Évora, Beja, Castro Verde, Setúbal e Palmela.
Cada sessão demorou entre 1h30 a 2h30, dependendo muito do comportamento dos animais. A título de curiosidade, o canil onde mais cães foram fotografados viu 53 fotos tiradas, e o canil com menos cães fotografados, viu 12.
Porquê fazer esta referência numa espécie de comparação? Porque o primeiro é um canil que tem mais apoio do seu município, tendo a sorte inclusive de ter um treinador de cães voluntário que ajuda na reabilitação dos cães. Já o segundo canil está “esquecido”, recebendo pouca atenção, tendo piores condições e sobrevivendo da boa vontade dos poucos que vão cuidando dos cães, dando-lhes o que é essencial. Esta disparidade é importante salvaguardar porque ela parece implicar na quantidade de reabilitação que os patudos recebem durante o acolhimento e é essa ajuda que depois, consequentemente, se reflete em mais adopções. Mas especificamente sobre isto falaremos mais abaixo.
O Be My Friend tenta, através das fotografias, nivelar estas disparidades, dando a cada cão retratado a possibilidade de ser visto em pé de igualdade com os demais. Pelo olhar da objetiva todos os cães se encontram na mesma condição, saem do mesmo ponto de partida, a lente que os retrata não espelha as suas condições mesmo que, muitas vezes, consiga capturar os seus estados de espírito.
De uma forma mais prática, estas diferenças entre associações e canis têm muita importância, principalmente do ponto de vista do estado psicológico/comportamental do cão que está para adopção, estado esse, na maior parte das vezes, consequência de maus tratos e abusos sofridos. Um cão que não consiga reabilitar-se na instituição de acolhimento, será com certeza um cão que terá maiores dificuldades para ser adoptado e fará parte do grupo dos “não adoptáveis”. É triste mas é uma realidade. Há cães que pela extensão dos danos sofridos não se deixam mexer, cuidar, “curar”, ficando para trás nas listas de animais passíveis para ganharem um novo lar. Sendo esta uma tremenda injustiça, não só para o cachorro que não teve escolha nos donos que recebeu e culpa nos abusos que lhe deram, mas também para as associações que tanto querem que todos possam ser amados nos seios de novas famílias. Se a este processo “natural” aliarmos a incapacidade das instituições de trabalharem com os cães, por falta de recursos monetários e humanos, mesmo os que se encontram capazes de reabilitação, a nossa lista de patudos à espera de uma casa vai ficando cada vez maior.
Sabendo que durante muito tempo a palavra canil tinha uma conotação muito negativa, dadas as práticas que decorriam nas mesmas, a experiência que esta tour trouxe, apoiada na variedade de instituições visitadas, é que há garantidamente um esforço e uma dedicação imensa de todos os que estão envolvidos com os animais para que a estadia dos patudos seja passageira. Há amor, carinho, cuidado, mas há também a resiliência, o sacrifício, a doação de tempo, recursos. A união entre o amor que se tem pelos animais e a vontade de poder fazer algo para combater a injustiça que fez os mesmos chegar à condição de “para adopção” é o que motiva estas heroínas e heróis sem nome, que fazem pequenos milagres todos os dias
É seguro dizer que todos os que lerem este texto se conseguem identificar com o sentimento retratado na frase anterior, mas talvez muitos não saibam como pegar nesse sentimento e transformá-lo em algo palpável e útil para os patudos. Gostaríamos de ajudar neste ponto por entendermos que a primeira vontade que se tem é a de adoptar todos os focinhos magníficos que vemos. Sabendo que isso não é possível, trazemos aqui uma espécie de apelo, ou sugestão, para haver um maior apoio aos canis e associações. Gostar dos patudos pode traduzir-se por uma deslocação à instituição mais próxima e doar um pouco do seu tempo aos animais. Esta ajuda pode ser de extrema relevância para um cachorro, para mais do que um. Pode ser a diferença entre um patudinho que teve que passar o dia na box ou teve a sorte de ter alguém que o levou a passear… Mais uma vez reforçamos, nem todos têm recursos para doar ou podem adoptar um cão, mas para ajudar um bichinho basta um pouco de atenção e carinho.
Muito mais podia ser descrito da experiência retirada destes 7 dias, nomeadamente as histórias ouvidas sobre as condições em que muitos dos animais chegam às instituições. As histórias de sucesso e as que contam com menos sorte. No entanto, queremos transmitir que o saldo desta tour foi extremamente positivo, não só pelos números conseguidos (que esperamos se traduzam numa proporção direta em adopções) mas, principalmente, por entender que este projecto, tal como qualquer outro que se assemelhe na intenção, faz muito sentido e poderá servir para não só retratar os patudos mas, talvez, também uma realidade que parece escondida, esquecida. Ainda há muito a fazer para trazer à consciência global da nossa sociedade uma sensibilização para os animais e os maus tratos que sofrem, o que passam até entrarem no sistema para adopção e, finalmente, até serem adoptados permanentemente.
Até lá o Be My Friend vai estar presente e consciente do seu papel, trazendo consigo todos os que nos seguem e apoiam. Obrigado a todos os que contribuíram para esta tour e por nos terem acompanhado nesta viagem.